Entrevista ao podcast Sorrir Melhor (segunda parte)

August 23, 2023

Nesta segunda parte da conversa, muito ficou por dizer. Complemento no texto em baixo…

A minha personalidade é a de um nº 3 do Eneagrama. 

Foco-me muito em resultados. E sempre transmiti isso a todas as equipas com que trabalhei e que integrei. Liderando ou sendo liderado.

Assim, nos quase 20 anos em que liderei a Ordem dos Médicos Dentistas, fomos decisivos para:

  • Aumentar a acessibilidade da população à saúde oral de cerca de 15%, em 2001, para mais de 60% em 2020. Todos juntos, conseguimos:
    • Na prática privada da profissão, integrados numa rede de cerca de 6000 clínicas e consultórios de medicina dentária que cobrem 97% do território nacional;
    • Com a ajuda do programa Cheque-Dentista, 3,5 milhões de portugueses acederam a consultas de medicina dentária;
    • E, mais tarde, com a integração de cerca de 120 médicos dentistas no SNS.
  • Atingir o reconhecimento pleno da medicina dentária como uma profissão médica, e dos médicos dentistas como “médicos de saúde oral”, alargando o seu papel e a sua intervenção na sociedade, mediante a introdução de especialidades e de competências em medicina dentária.
  • Combater com êxito a, então, elevadíssima taxa de sucesso o exercício ilegal da profissão.
  • Licenciar e certificar o universo de consultórios e clínicas dentárias a operar.
  • Criar um Observatório de Saúde Oral, que permitiu estudar e promover a profissão e a saúde oral através de barómetros, campanhas e estudos, que proporcionaram visibilidade pública e se revelaram eficazes e promotores de políticas de saúde pública mais efetivas.
  • Integrar na sociedade portuguesa o conceito de Saúde Oral/ Saúde Geral, um contributo essencial para a qualidade de vida dos portugueses.
  • Implementar Formação Contínua tendencialmente gratuita para todos os médicos dentistas.
  • Afirmar o Congresso da nossa Ordem como um dos maiores e mais prestigiados da Europa.
  • Implementar Especialidades e regulamentar Competências na medicina dentária.
  • Neste período, inquestionavelmente, projetamos a nossa profissão de forma efetiva e torná-la relevante, quer ao nível social quer nas plataformas de decisão pública.

A nível nacional, enquanto bastonário da nossa Ordem, foi possível ocupar lugares de destaque e de prestígio para todos nós:

  • Na Presidência do CNOP – Conselho Nacional das Ordens Profissionais;
  • No Conselho Económico e Social;
  • Em inúmeros grupos de trabalho e fóruns de diálogo com agentes políticos e da sociedade civil de uma forma geral.

A nível internacional através da participação ativa nos organismos mais representativos da profissão, designadamente: 

  • Na Presidência e Comités da FDI – Federação Dentária Internacional;
  • Na Presidência e Comités do CED – Conselho Europeu dos Médicos Dentistas; 
  • Na Presidência da FEDCAR – Federação dos Reguladores Europeus da Profissão;
  • Em diversas parcerias estabelecidas com os países de língua e expressão portuguesa, em especial o Brasil, e ainda no âmbito da Associação Dentária Lusófona.

Os médicos dentistas e a medicina dentária portuguesa são hoje reconhecidos automaticamente na União Europeia e considerados como profissionais valorizados a nível global.

Afirmo, com orgulho na profissão, que a medicina dentária praticada no nosso país ultrapassa em muito os limites das nossas fronteiras. Somos uma área de vanguarda, reconhecida como produtora de conhecimento e de mais-valias para Portugal.

Com cerca de 96% dos seus membros a exercer essencialmente no setor privado, num País em que o sistema público de saúde foi esquecendo, durante muitos anos, a saúde oral como área fundamental para a saúde pública, que o é. Nesse sentido, a OMD teve intervenção constante junto dos decisores públicos, criando uma lógica de permanente negociação visando defender a profissão, os médicos dentistas e as populações ou, tantas vezes, evitando que medidas danosas ou políticas erradas fossem implementadas.

Tal como outras profissões liberais, nestes últimos 20 anos, enfrentamos desafios muito difíceis:

  • A desregulação económica da profissão, decorrente da globalização;
  • A crise económica da crise do SubPrime e a subsequente intervenção da Troika;
  • A emigração daí decorrente, ainda em curso nos dias de hoje de médicos dentistas, grande parte das vezes forçada, nomeadamente no espaço europeu;
  • E, mais recentemente, a crise resultante da pandemia Covid-19, que obrigou à suspensão da atividade durante cerca de 45 dias. 

Mas, esta profissão é resiliente, os seus profissionais são bem preparados e muito capazes, e as pessoas precisam muito dela.

Neste podcast, deixo um agradecimento especial a todos os que comigo caminharam nestas quase duas décadas, quer integrando os órgãos sociais quer através da sua participação nas muitas iniciativas e atividades da nossa Ordem.

Em conjunto, deixamos o legado que mais nos deve orgulhar – uma Ordem respeitada, sempre ouvida, exemplarmente gerida, com um corpo de funcionários e colaboradores leais, dedicados, competentes, incondicionais na sua entrega, que constituem uma enorme mais-valia no dia-a-dia da Instituição. Constituem-se, autenticamente, no motor desta Ordem.

E, numa altura de crise generalizada do país, das instituições e das empresas, quero realçar o facto de deixarmos uma Ordem económica e financeiramente muito robusta, com 6 milhões de ativos financeiros  disponibilidades e excedentes financeiros mais do que suficientes para enfrentar o futuro. Num país em que a falta de recursos financeiros sempre pauta o funcionamento das suas instituições, peço-lhes que me permitam a veleidade de exibir um especial orgulho neste facto importante para todos nós, porque sem uma Ordem financeiramente saudável, a nossa profissão não teria quem a pudesse defender eficazmente.

Acabei as minhas funções de Bastonário por vontade própria, com a noção plena de ter servido a Ordem dos Médicos Dentistas e a profissão com o melhor do meu esforço, com as minhas qualidades e limitações,  mas sobretudo, com a consciência do dever cumprido.

Poderá ouvir a entrevista no Spotify, no Apple Podcasts ou Google Podcast.

Também poderá ouvir aqui diretamente o ficheiro áudio mp3.

A primeira parte da entrevista, publicada na semana passada, está disponível em Entrevista ao podcast Sorrir Melhor.


Entrevista ao podcast Sorrir Melhor

August 17, 2023

Foi publicada a primeira parte da minha entrevista ao podcast Sorrir Melhor, da Ordem dos Médicos Dentistas, que está a comemorar o 25º aniversário.

Neste episódio, recuo à infância na Alemanha, quando o país estava dividido entre República Democrática Alemã (RDA) e República Federal da Alemanha (RFA), e explico como as políticas de saúde oral, com foco na prevenção, se refletiam no ensino.

Partilho também a minha experiência na Força Aérea Portuguesa, enquanto médico dentista, e explico porque optei pela profissão quando, simultaneamente, considerava uma carreira de piloto militar.

Poderá ouvir a entrevista no Spotify, no Apple Podcasts ou Google Podcast.

Também poderá ouvir aqui diretamente o ficheiro áudio mp3.


A Receita para… “Medicalização” em detrimento da “dentalização” da medicina dentária

August 1, 2023

Poderão estar interessados numa conversa que tive sobre “Medicalização e Dentalização” da medicina dentária com o Prof. Adalberto Campos Fernandes, ex-ministro da Saúde e o Prof. Paulo Maia, médico dentista e coordenador da área de medicina dentária da Universidade Europeia.

Adalberto Campos Fernandes e Fernando Araújo, então secretário de Estado, com a liderança do projeto e atual CEO do Serviço Nacional de Saúde (SNS) de Portugal, foram os responsáveis, num processo que acompanhei então com as minhas equipas, pela inserção de médicos dentistas de forma integrada no nosso SNS e pela aprovação da carreira de medicina dentária, ao nível dos Cuidados de Saúde Primários e Hospitalares, que aguarda, infelizmente, desde 2018, ratificação pelo Ministério das Finanças.

Recorde-se que as carreiras especiais no SNS, como é o caso da medicina dentária, precisam de luz verde de ambos os ministérios.

Assista à gravação vídeo da conversa no YouTube. Em alternativa, também poderá ouvir a versão áudio em podcast.

English

You may be interested in a conversation I had about the “Medicalisation and Dentalisation” of dental medicine with Professor Adalberto Campos Fernandes, former Minister of Health, and Professor Paulo Maia, dentist and Coordinator of the Dental Medicine Department at the European University.

Adalberto Campos Fernandes and Fernando Araújo, who was then the State Secretary in charge of the project and is now the CEO of the Portuguese National Health Service (SNS), were responsible for the integration of dentists into our SNS and the approval of a dental medicine career at the primary and hospital healthcare levels, which unfortunately has been awaiting rectification by the Ministry of Finance since 2018.

It should be remembered that special careers in the SNS, such as dental medicine, require approval from both ministries.